A Inês procurou-me com a esperança de conseguir ter um parto vaginal, mas com bastante receio, pois tinha uma fissura que a levava a equacionar se esta seria a melhor opção. Aconselhou-se com profissionais competentes. Preparou-se a todos os níveis (poucas mães se prepararam tão intensamente quanto ela) e fez as suas escolhas, baseadas na evidência e seguindo os seus instintos. Este é o seu relato de parto* com Hypnobirthing.
“No sábado, dia 27 à noite já sentia umas ondas potentes, embora só com ligeira dor. A noite passou e domingo, logo de manhã, eu sentia que tinha começado a nossa festa!
Tive comigo a minha melhor amiga desde as 11h30, já que o L. estava a trabalhar. Ela trouxe comidinha boa, fomos passear, aproveitar o sol que pedia mesmo esse passeio.
Com isto, as ondas foram aumentando, embora irregulares, com alguma dor associada. Aí eu já estava quase certa de que não se tratava de fase prodromal, como tinha acontecido nos últimos dias, mas o início efetivo do trabalho de parto.
Pelas 17h as ondas foram ficando mais intensas, então deitei-me a descansar. Aí, a respiração ascendente, que já normalmente relaxava, foi fundamental para gerir as ondas e conseguir descansar entre elas.
Entretanto, o L. chegou, já estava a ter ondas regulares de 10 em 10 minutos, pelas 17h30. Tomei banho, vesti-me, e senti que tudo estava a evoluir muito rapidamente. Eram 18h30 e já estava a ter ondas de 5 em 5 minutos, então, ligámos para o hospital XXXX *e disseram que seria bom sairmos logo que possível, tal como eu desconfiava.
Ao contrário do que imaginava, quis ir em silêncio, sem música a tocar, mas já ia naquele transe bom do trabalho de parto.
Pelas 19h30 estávamos a sair de casa, ainda para levar o nosso cão ao hotel. O que eu temia que pudesse acontecer, que era estagnar o TP, não aconteceu! Ao contrário do que imaginava, quis ir em silêncio, sem música a tocar, mas já ia naquele transe bom do trabalho de parto.
Cantámos algumas músicas e foi muito mágico. Aí já estava a vocalizar imenso, a chamar as ondas, a sentir que estavam cada vez mais poderosas, sempre num registo de entrega que até me arrepiava.
Ao chegar ao hospital, pelas 21h, entrámos na zona de consultas, sem saber que tínhamos de ir pela urgência. Demos a volta ao edifício, entrei nas urgências, o L ficou a fazer o registo e a aguardar teste de Covid. Quando subi, fui fazer o exame CTG, e tive a consulta com os médicos. Foi aí que percebi o quão atípico estava a ser aquele dia, no Hospital. Estavam tantas mulheres a entrar em trabalho de parto, que eles nem conseguiam fazer os registos e estavam a ter dificuldade em fazer corresponder os maridos às parturientes.
Ao médico que me fez o toque, pedi que não me dissesse quanta tinha de dilatação. A médica foi desagradável, brusca, nem me emprestou a caneta para assinar o consentimento informado. No entanto, e isto é uma das coisas que devo ao Hipnoparto e ao nosso treinamento, consegui não me deixar afetar por isso, mantive a minha paz, o meu controlo sobre a situação, ir ao meu lugar seguro no meio do caos que estava o serviço naquele dia!
Expliquei a minha fístula, ao que ela me responde “é por isso que está aqui connosco? Muito respeito por isso, pela escolha de vir para cá por esse períneo. Vou passar a mensagem.”
Depois, estive com a enfermeira parteira, já me senti bem mais acolhida, já estava com ondas de 3 em 3 min, cada vez mais intensas, ela respeitou sempre o tempo que eu precisava.
Falei-lhe quando pude, expliquei a minha fístula, ao que ela me responde “é por isso que está aqui connosco? Muito respeito por isso, pela escolha de vir para cá por esse períneo. Vou passar a mensagem.”
Ouvir aquilo foi um bálsamo.
Daí, segui-a para fazer o teste de Covid, e foi quando ela me informou que, dada a grande afluência naquela noite, não tinham bloco de partos privativo para nós, pelo menos para já.
Tive que decidir se seriamos transferidos, ou se esperava que vagasse. Optei imediatamente por ficar, sabia que ia conseguir gerir a situação mesmo com todos estes imprevistos! Então, daí fui para uma enfermaria com 4 camas, já 3 estavam ocupadas, e só aí é que o L. veio ter comigo. (num dia normal, após a confirmação do TP ativo, iríamos diretamente para um bloco privativo e lá faríamos o teste de covid e aguardar o resultado)
Tive que decidir se seriamos transferidos, ou se esperava que vagasse.
Nesta enfermaria, o espaço era exíguo. Era o espaço para a cama, mesa de cabeceira e pouco mais. Mesmo assim, fechámos as cortinas, pedi ao luis para pôr tudo (as luzes, as afirmações, as fotos, o creme-aroma, aquecer o saco de arroz para a lombar e usei os tampões para os ouvidos, que ajudaram bastante a sentir-me isolada, pelo menos durante algum tempo). Usei o chuveiro, durante algum tempo, mas também não queria tirar a vez a outras mulheres que pudessem precisar. Então, para perceber se havia evolução, pedi para me fazerem o toque e aí já quis saber quanto tinha, que era 5cm. Decidi esperar mais um pouco, ir à bola de pilates (para a qual quase não havia espaço) mas estava a sentir-me condicionada por estar com mais pessoas.
Pedi novo toque, cerca de 2h depois, e a dilatação estava igual, 5cm. Então não esperei mais, pedi epidural, pois as dores estavam muito intensas e nem sequer estavam a ter resultado. Foi a melhor decisão que tomei, dada a situação. Falta de privacidade, de espaço para movimentar, não saber quanto tempo ia demorar até termos o nosso bloco, tudo isso, fez “parar” a dilatação, mesmo com ondas fortes. De facto a epidural moderna é completamente diferente da que tive com a Leonor. Sentia tudo à mesma, mas pude relaxar e descansar.
Sentia tudo à mesma, mas pude relaxar e descansar.
Nisto, eram cerca das 2h da manhã quando nos dizem que já têm bloco privativo para nós! Fomos para lá, e a partir daí a dilatação voltou a acontecer (viva a privacidade!)! Movimentei-me, dançámos, cantámos! o Luís também tinha conseguido descansar, durante a minha epidural, o que foi fundamental para a fase final do TP. O saco de águas só rebentou aí, já aos 7cm de dilatação! Pouco depois já senti vontade de fazer força e senti o sacro a ser empurrado.
Chamei a Enfermeira, pedi o toque, e ela confirmou que já tinha dilatação completa! A partir daí, julgo que foram cerca de 3h até o V. nascer, no banco de parto e com muito movimento, verticalidade, amor, massagens e pressão nas costas feitas pelo L! Ele e as enfermeiras sempre a incentivar-me, eu a achar que não estava a resultar e não ia conseguir, e eles sempre a dar-me força! Puseram um espelho, para vermos o decorrer do parto, pude ver e sentir com as mãos, sentir os tecidos todos molezinhos e relaxados (bendita relaxina)!
Não havia sinais da fístula, era como se não estivesse lá nada! Isso fez-me, mais que nunca acreditar que o meu instinto sempre esteve certo! Mesmo indo contra algumas opiniões, estava a ter o meu Parto-Cura! Estava a acontecer! Pouco depois o Vicente estava a coroar eu já o conseguia ver e tocar!
Mesmo indo contra algumas opiniões, estava a ter o meu Parto-Cura!
Eram 6h02 da manhã de dia 29 de março, quando com um derradeiro puxo e a minha ajuda com a mão, o V nasceu, quase sem lacerar a Mãe, quase todo de uma vez e eu o trouxe para o meu peito! Foi, sem sombra de dúvidas, o momento mais intenso, transformador, revelador da própria sabedoria do meu corpo, da qual duvidei durante tanto tempo! Foi como um renascer. Foi um perceber com propriedade que temos tudo em nós para fazer os nossos partos, e que quem nos lacera (e dilacera) é o próprio sistema que impõe tempos, substâncias e intervenções rotineiras quase sempre desnecessárias.
Durante todo o processo e os seus imprevistos, estiveram sempre presentes as afirmações, a respiração, as visualizações e o efeito calmante do toque e voz do L, bem como a potência do seu incentivo na fase final, que me fizeram sentir uma deusa!
As afirmações, a respiração, as visualizações e o efeito calmante do toque e voz do L, bem como a potência do seu incentivo na fase final, que me fizeram sentir uma deusa!
Tanta coisa podia ter feito desviar o TP, fazer-me sentir desesperada, mas isso não aconteceu! Foi fundamental aquilo que nos ensinou, o seu incentivo e a construção desta nossa confiança! Foi fundamental termos escolhido aquela Casa, aquelas pessoas para nos acolherem e deixámos isso bem patente!
Já no final do internamento, antes de termos alta, perguntei com quantos cm de dilatação cheguei, e eram 5 na altura da admissão. Isto fez-me perceber ainda mais a importância da privacidade! Se tivéssemos ficado em casa mais tempo, o V teria nascido cá ou no carro!
Se tivéssemos ficado em casa mais tempo, o V teria nascido cá ou no carro!
Este pós-parto está a ser divino, reflexo da experiência tão positiva que foi o parto. E quando assomam alguns pensamentos menos bons, sei como os tratar e como os fazer desaparecer, com calma, serenidade e atenção plena!
Bem dizia a Maria, o que aprendemos tem ajudado mesmo depois do parto e também isso é de louvar!
Não sei como agradecer mais. Recomendo o seu acompanhamento a todas as grávidas que conheço! Todas as famílias merecem ter uma experiência positiva e empoderada como a que nós estamos a ter.”
É verdade, todas as família merecem ter uma boa experiência!
Obrigada querida Inês, foi um desafio e um verdadeiro gosto acompanhá-los!
* O relato está escrito conforme foi enviado pela mãe e retrata a sua perceção.
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